Página:Exaltação (1916).pdf/260

Wikisource, a biblioteca livre
— 252 —

mente triste. E´ uma belleza inutil — atalhou Francisco, folheando uma revista de Direito.

— E´ untes um ninho para o amôr — quasi murmurou Lalice. Fechando a meio os olhos, ella pensava em Theophilo.

— Creio que é essa a razão, porque a nossa alta sociedade aqui passa a sua lua de mel... — accrescentou Francisco ironico.

— E todos os suspiros, e todos os ais d´esses corações que se dão, é que formam esta ternura subtil, dolorosa que modela o arvoredo e a flor, a casaria e as sinuosidades d´estas ruas...

— Dizes uma verdade: — a ternura d´esta localidade é atordoante — retorquiu Francisco, maliciosamente, beijando-a muito.

Ladice não respondeu aos seus affagos; permaneceu, rigida, fria, silenciosa; em aquelle momento ella pertencia inteira a Theophilo.

— Então não me beijas? Estás em contradicção... Meu Deus, que indifferença! exclamou elle, sentando-se.

Queres que te beije adeante de todo o mundo? Não vês as pessoas que passam? São só os amantes que se beijam assim em a presença de estranhos... — E, ao redor de seus labios, se accentuava o rictus da grande tristeza.

— A tua ardencia é uma ardencia esteril, anormal; só explode para a natureza.

— Serei uma doente, uma sensibilidade estrava-