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esperança em o universo... Ah! meu Poeta, quanta magnificencia tens... Como eu te amo! Como eu te amo... E repetindo essas palavras, ella o estreitava como uma alucinada, chorando mais, ainda mais. Elles permaneceram assim alguns instantes na meia-luz e no silencio, entrelaçados. Ladice a soluçar, Theophilo calado a acaricial-a, a miral-a; a violencia, porém, de sua amante, o seu pranto obstinado, o fizeram suspeitar, que além de emoções artisticas, havia outros sentimentos que surdiam: nunca elle a vira assim entregue a angustia tamanha, nunca o seu corpo se dobrara. Em o senso de Theophilo se levantou uma alegria infrene.

— Mas Ladice, por que estas lagrimas abundantes? Tens o meu amor, a minha intelligencia, o meu poder, a minha estravagancia, o meu desejo em as tuas mãos, em o teu dominio ao teu commando como cousas mortas, cegas, sem volição... Será possivel que não sintas em minhas palavras vibrações, desesperos, estridencias, revoltas de paixão? Tu me possues completamente... Agiste em mim, como a vida age em a semente: rompe-lhe o casulo, sacode-a. transforma-a...

— Ah! meu amigo, porque choro não sei. Amo-te, olho-te, sinto-te, admiro-te e percebo que não sou immortal, que não poderei gosar através de ti, todos os prazeres da existencia, o seu vicio e a sua virtude... — depois de uma pausa. Eu quizera ser qualquer cousa tua que te não deixa um instante siquer. — E seus olhos retinham os olhos de seu amante. — A tua nostalgia, por exemplo... Como adoro e me enebria