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— Conhecerás o livôr, a demencia de minha sensação que desconhece a solução... Sentirás em mim a pausa dos sentimentos e das imaginações multiformes e immensuraveis... porque tenho o gesto immortal do amor e da Intelligencia que não morrem... Segurando-lhe os pulsos fortemente, machucando-os mesmo, Theophilo fremindo:

— Arrancarei de ti, o teu senso, o teu orgulho, a tua ambição e todas as desordens que engendram os teus espasmos... terei tudo de ti, comprehendes? Eu te deixarei como a nuvem desprovida de tormenta... — E seus olhos se fixaram em Ladice como se ella fôra o principio e o fim das cousas vivas e ignotas...

A Senhora de Assis não respondeu. A audacia amorosa de Theophilo lhe emprestava um sabor violento, toxico: ser e não ser, e depois tornar a ser, era para a sua sensibilidade estranha, original, uma volupia extrema, deliciosa... Ella brincava descuidada com a corrente do relogio de seu amante: passava-a pelos dedos finos, torcia-a, destorcia-a, distendia-a, toda entregue ás suas emoções, aos seus estuosos alvorotos... mas, de repente, com um movimento consciente, sorrindo, estirou-a sobre a palma rosca da mão e disse fechando a meio os olhos:

— Vês, Thêo é a serpente de oiro de meu desejo; — e fez menção de levantar-se.

Theophilo a reteve.

— Espera... Dize-me quando serás minha totalmente... Quero-te toda como a terra tem o sol...— Elle inteiro, o seu motivo, a sua condição se agarra-