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se esforçando por ser mais cruel, mais deshumano, mais atilado na verrina, na exposição do facto extraordinario. Havia instantes tão acalorados que se diria pairar em o semblante de ambos clarões de fanaticos, tal a convicção, o ardor, a fallacia do instincto da verdade que os impellia a essa vontade forte de desvendar uma moral. A conversa se mantinha á surdina; mas, em se dirigindo para Theophilo, devido ao passo vagaroso em que iam, Ladice ouviu claramente, solta como o brilho de um punhal scintillando, a seguinte phrase de Armando embrulhada em sarcasmo: “Devemos tomal-as sempre pela violencia.”

Do pé á cabeça da Senhora de Assis houve um recuo, um rugido de orgulho alvejado. Os dedos lhe tremeram confundindo accórdes...

Theophilo, quasi desapparecia, rodeado pelos dous. Ladice apenas lhe divisava a testa magnifica os cabellos negros, esses cabellos mortos que pareciam haver dormitado sob a terra, desde o seculo dos Ptolomeos. Oh! como ella adorava esses cabellos sem vida, enigmaticos, cheios de poderes evocadores. Quantas vezes os sentindo ella lhe não dizia: “Oh Thêo! elles teem o perfume da Rainha Berenice... Com certeza pertenceram a um principe que morreu noivo e que foi encerrado em um sarcophago, ladeado de lotos; apertavam-n´os um turbante, tendo bordado a oiro luzente esbraseado, igneo como um escarcéo de fogo, o sol esplendido de Alexandria... — E ella fechava os olhos a meio como que procurando lembrar-se — enterraram-n´o em a ala direita da terceira Pyramide, que enfrenta a Esphinge... E´ por isso que elles teem