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No dia seguinte, cedo, sem se fazer annunciar, Theophilo recebeu a visita inesperada de Armando que lhe entrou pelo quarto alvorotado:

— Theophilo, peço-te desculpas pela hora matutina. Não me podia ir embora sem te dar os parabens, sem te dizer que descobri o teu segredo, a musa de teus versos candentes, a tua nova febre, o teu amôr... — Mudando de tom com as mãos para o alto — Agora comprehendo-lhe a virtude, as reticencias, a ardencia esteril, a recusa do meu amôr, a sua impiedade...

— A recusa do teu amôr? — acudiu attonito Theophilo.

— Sim, pois ignoras que a amo?... Mas que te importa isso, si ella me não ama! Ella é totalmente tua, é a amorosa fixa, a inconsequente individual, a demente de ti... A unica mulher capaz dos surtos de teu estro... Ah, como és feliz! — Abraçando-o — Gosa-a, gosa-a, embora me saibas um desgraçado... — E elle fez menção de sair.

— Mas, que loucura é essa, Armando ? Senta-te espera, acalma-te... Ouve; explica-te...

— Não posso; devo descer já; preciso estar no Rio. — Segurando-lhe no braço —Sabes? Nunca mais a verei.— Com a physionomia transtornada, as pupillas dilatadas, errantes: — Passei a noute acordado, n´um verdadeiro combate... Oh! que horror ver-se um sonho abater-se, ruir, embora sem esperança... — E elle desappareceu.

Em o coração do Poeta se levantou um pœan á Fidelidade e á Belleza de sua amante.

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