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Para os homens, outras affeições, novos amores, esperanças ridentes, febricidades intensivas, que rasgam as seivas moças, ella tinha indifferença total, desanimo, crenças nullas, energias mortas; o futuro se lhe antolhava um vacuo monotono, uniforme, incolor; isento de interesse, de seducções, de abalos, de anceios continuos. Ella seria o silencio estuante, o impeto açaimado, passivo, acurvando-se.

Todas as suas demasias começavam de volver-se para os livros, para a natureza, o azul, a ramaria, os frutos, o lyrismo das manhãs, os crepuseulos nostalgicos. Ella se comprazia em seguir longamente, com os olhos, as voluias, as espiras que a nervosidade dos insectos gizava em o ar; espreitava, sorrindo, a marcha lenta dos escaravelhos; passando de folha em folha; invejava a liberdade do passaredo que esvoacava pelos cimos; surprehendia os cameleões extacticos, saciando-se de sol, de calor; estremecia de goso e do terror ao ver atravessar alguma touceira de bambú rapida cobra coralina..., á tarde, tinha sobre os hombros e o senso a mesma melancolia, a mesma oppressão que se agarra á terra, às horas.

— Meus Deus! — costumava ella dizer: — Pela manhã, sou uma inconsciente, que ri; ao cair da noite, porém, desço até a origem, o além das causas da vida...

João que se picava de ser fino psychologo feminino, havendo a sua estada no estrangeiro grandemente concorrido para isso, notava as transformações porque ella passava; achava-a mais mulher, com um