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"Eu quero!" afigura-se-me ver as montanhas e os abysmos recuarem assustados...

João, olhando-a pensava: "Meu Deus, como essa fragilidade é inquebrantavel e altiva..."

— Oh! mulher romantica, não pensas na tragedia final? Forçosamente ha de ter um epilogo...

— Fecho os olhos, vendo os pensamentos e entrego-me ao Destino bemdito, qual morta-viva...

Elles caminharam, durante algum tempo, calados, taciturnos; Ladice estava contrariada; devido á presença de seu primo, ella hoje não poderia visitar Theophilo.

— Sentemo-nos aqui — disse João, entrando no Jardim da rua 15 de Novembro.— Já reparaste como o verde domina n´esta cidade, até em os lagos...

— E´ signal de juventude; é a côr do arvoredo moço, é a pulsação cheia — dizia Ladice, distrahida.

— Que symbolo descubro — exclamou elle. — Na verdade toda a minha esperança escorreu para o fundo d´esta agua...— João em mente se referia a impossibilidade de prender Ladice.

— Um coração sem esperança, que horror! Só a morte, João...— E ella volveu aos seus pensamentos.

Ladice examinava os contornos do lago ennegrecidos pelo tempo, pela propria humidade, que amparava, que continha em sua fixidez eterna como quem perfaz uma ordem superior, aquella agua pesada, immovel, lodosa, inalteravel. Ladice sentia a pressão, a tristeza, a monotonia, o cansaço que pairava sobre aquelle conjuncto falso, imitação parca, ficção avara do engenho humano, tão differente do lago agreste fi-