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se achava de cama. A´ vista d´este recurso, verdadeiro ou fingido, d´este tentamen de desespero, todas as suas agruras se relaxaram multiplicando-se. Ella vinha de sorver a esponja envinagrada, de sentir em as visceras dilaceradas a setima dôr, a setima lança... Era preciso uma grande resolução. Era-lhe mister aclarar a desordem do cerebro entorpecido, estabelecer a eurythmia perdida... Alguns instantes, e a sua imaginação foi surprehendida, ferida por espadanas luminosas, por um incendio de chammas hystericas... "Morrer!" exclamou ella transfigurada, os labios entreabertos, a cabeça meio inclinada para trás, os olhos no tecto, como se fora tocada pelo elarão que precede as apparições divinas... "Ah! sim, morrerei..." Só pela morte, ella terá a minha renuncia... — Agitada — Oh! deixai-me apenas celebrar os nossos ultimos esponsaes... Hymeneu, Hera, Zeus, divindades gregas accorrei, derramai sobre os nossos membros o myrtho symbolico, o jacintho, a violeta..."

Ladice era movida por tensões de vidas innumeraveis. A sua paixão, a sua morbidez, a sua anormalidade, intempestivas, bravias, ardentes, sequiosas, férvidas, augmentadas, accrescidas, estratificadas, cumuladas, a impelliam para essa negação de todas as eternidades, para essa moradia forrada de dithyrambos, de silencios e pausas infinitas; para essa expansão tragica, sublime, de seu amôr...

Em seus movimentos, em suas acções, ella deixava vinculadas, scentelhas, rapidez, pulsações, vida intensiva.