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Ella havia todos os auges do sentimento, do senso, da imaginação, da arte... Sua alma se enfeixava de ether, de vãos azues, de estrias rutilas...

A dôr, o desespero, a tortura de seu intimo se enlaçavam, se devoravam quaes dragões soberbos e apavorantes... Era o ultimo sim de uma consciencia que se affirmava com trovões e subtilezas delirantes.

Era o levantamento absoluto, o epicedio rubente, extraordinario de um corpo e de um espirito...

Theophilo entrou e dirigiu-se para o quarto. A meia luz o obumbrava. Parou deante da cama, curioso, avido qual Lemnyade fugida do mar immenso; sobre uma seda amarella Ladice se estirava, despida, toda envolta em gaze violeta; em o pé direito entre os dedos uma rosa se embutia; os cabellos se lhe extendiam atirados, para trás em caracoes. No chão o tapete era coberto totalmente pelas rosas escuras, desprovidas de folhagem, de lado a lado, em caçoilas improvisadas, ardiam resinas perfumadas, o nardo, o benjoim... A phantasia, o amôr, o senso poetico do Vate iam e vinham sobre Ladice, como a circulação invisivel do Deslumbramento; como a exhalação quente de uma boca febril; como a faisca venenosa, electrica de um olhar que passou...

Theophilo recebia sobre o ardor, a emoção, a belleza liquida, estranha de sua amante. Em seu silencio, fixando-a, elle se dizia, á medida que a inspiração se lhe transmutava.

— “E´s a lampada violeta que preside em abobadas escuras, o bem e o mal; o germen que se agita e a