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seiva que se estiola da humanidade... lá no fundo, contra a parede, se delineam tres formas sombrias, negras, esqualidas, cujas mãos descarnadas teem sempre o mesmo movimento alterno...

“És Chtonia immolada sobre ara reluzente de soes, em holocausto aos deuses para a salvação da “Cidade Virgem”... Tens em as visceras heroicas o culto, o enthusiasmo, a reverencia bemdita, o adeus terno e lacrimoso de Athenas orgulhosa... De tua garganta golpeada, o sangue escorreu e ajuntou-se em a base marmorea da ara reluzente de soes, denso, compacto, espesso, como se fora o roseiral luxuriante do amôr immortal…

“De cada lado, alçam-se em volutas, em traços de lirios o pranto mudo de Praxithéa, o allivio agradecido de corações innumenaveis...

“Oh! Imagem de Volupia, em o tumulo por um repente, os teus labios, o teu scio, os teus membros, o teu ventre, serão assim violaceos, esverdeados, ficarão dessa côr triturada, machucada, pisada, remanescente, inexcravel, phrenetico, sedento de volupias successivas e violentas... Emquanto elle assim falava afigurava-se-lhe sentir o cheiro de terra abafadiga, de humidade, de bolôr; e em seu delirio, imaginava distinguir milhares de corpusculos a se avolumarem: — Carne morta, não tua, volupia minha e do universo, flamma violeta dos desejos atordoantes e insupportaveis só possucs de vivo, esses teus cabellos eternamente rebeldes que se te esfumeam quaes remoinhos toxicos...”