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vos... Sentei-me. Tornou-se a minha sombra, o meu Pagem. Quando me via valsando, quedava-se, de pé, contra uma columna, taciturno, a olhar-me; as moças o trataram com carinho. Levou-me so “buffet” um moço magro, pallido, estravagante. Adivinhei que era um poeta... — Symbolista — accrescentou-me elle. A nossa conversa corria ligeira, cheirava a jasmim.

Fatigada, estonteada, louca pelo silencio, entrei em uma saleta toda branca, estylo Roccoco, guarnecida de palmeirinhas verdes. Cheguei-me á janella, Ah! como as noites de maio são luzidias e limpidas! Inclinei-me para a frente, debrucei-me sobre o para-peito, abri a meio a bôca e inundei-me de aragens, de perfumes, de noite mysteriosa... As estrellas, ardendo balbuciavam-me — “minha irmã”... Um torpor lento, inexplicavel, se apoderou de mim, os meus olhos encheram-se de lagrimas, eu inteira estirava-me em mente, para Theophilo... Ouço o meu nome, volto-me. Deparou-se-me o dr. Ássis á minha procura:

— Senhorinha de Santo Hilario, com certeza é poetisa; creio que me não engano...

— Mas, por que?

— Abandonou o salão, esqueceu-se da dansa, de todos (não ousou dizer de mim), e veio refugiar-se no silencio e no luar, como a fada do crepuseulo...

Na verdade, a lua me batia em cheio.

Elle continuou:

— Quando a vi entrar, tive logo a impressão de que ia haver-me com uma moça original, talvez devido no seu typo, e pensei:—ha de gostar das flôres, sobretudo das angelicas e das violetas... Deverá sa-