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borear o mel, os frutos acres e os bombons, crystalizados... Adorará de preferencia Beethoven, Sehumanon, e a sua alma ha de ter mais fremitos do que o arvoredo dos cimos, embora, á noite, reze, pledosa, o “Pater”, de joelhos, não é mesmo?

Ri-me, e disse-lhe:

— Talvez... eu mesma não sei o que seja. Vario muito, sou como o ar das montanhas: hoje, glacial; amanhã, cheio de luz, de sol...

— São as incertezas da juventnde, apenas em eclosão — proseguiu elle, sorrindo. — Lê muito. Quaes os poetas favoritos?

— Byron e Heine.

— São dois contrastes, dois temperamentos differentes — accrescentou elle. — Um é explosivo; tem sempre em o coração o raio de Jove; o outro é um torturado...

— Sim, mas ambos sentiram o amor profundamente, ambos levaram em a alma os seus gilvazes sangrentos...— respondi-lhe com vehemencia.

— Paz a vós, é immortaes felizes, que mereceis tal culto... — exelamou, erguendo os olhos ao céo, e ajuntou:—não gosto dos allemães, são mui nebulosos e horrivelmente romanticos...

— Sim, doutor, mas é uma nebulosidade que traz em seu bojo sóes esplendidos... elles têm, como o Mar Baltico e o Mar do Norte, brumas virgens, sobre o azul e as suas revóltas...

Depois de certo silencio, disse-me:

— Senhorinha de Santo Hilario, vive dentro de uma lenda, não é mesmo?