Ela queria dizer-lhe, á maneira de oração: “és a minha fixidez, o meu infinito, o meu ether... Para ti, é meu amor, tenho a fidelidade, a grande verdade da intuição”...
Profundamente dolorosa, Ladica respondeu-lhe:
— Infelizmente. somos dois contrastes: mamãe representa o typo idéal da mulher, que faz a felicidade do homem. Quanto a mim, só tenho defeitos...
— Ainda os confessas... Como, pois, te não corriges? E' incrivel essa resistencia ao erro...
Ladice dissera defeitos em attenção á sua mãe. Em seu intimo, considerava-os perfeições, extremos de excepção, os estigmas das paixões, das superioridades, as fontes de seu goso.
— Fraqueza de vontade... inercia... — explicou ella, evasiva,
— Emquanto estiveres sob meu dominio, farei todo o possivel para te endireitar, para te tornar uma mulker digna — proferiu, contrariada, a baroneza.
Ladice estremeceu, a essas palavras; ella percebia discussões sem termo, vigilancia dupla, coacção perenne.
— Lamento a sorte de teu futuro marido — concluiu, mordaz, a sra. de Santo Hilario, levantando-se.
— Se me casar por amor, serei rosa estonteante...
A sra, de Santo Hilario, irritada, voltou-se e disse, não a deixando terminar a phrase:
— Como são tolas as mulheres de hoje, só falam em amor. No meu tempo, uma moça não se atrevia a pronunciar essa palavra ao lado de sua mãe... E' bem uma éra de perdição... — E a porta fechou-se.
A. B.—4