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Ladice não podia pôr estorvo á tristeza minaz que se lhe agarrava ao senso; o sonho magnifico de sua juventude se desfazia... A atença radiosa, flammante, que se lhe librava sobre os atomos, qual prophecia divina, qual cubiça immensuravel e dourada, afastava-se, desapparecia. Os vampiros da decepção, do desalento, da ruina voejavram, sinistros, ao redor della, para lhe sugar a seiva dos instinctos, da vida physica, dos transbordos... “Meu Deus, antes a morte, antes a morte” — pensava ella,

— Mas, por que essas lagrimas? Não sabes, pois, que a dôr precede sempre o bem? Soffres agora para alcançares, mais tarde, a gloria, minha irmãzinha... — segredou-lhe Dinah, envolvendo-a em seus braços.

— Eu quero a gloria da terra...

— Que blasphemia Ladice — e Dinah tapou-lhe a bôca com a mão.

— Se fosse como tu, que tens tudo o que desejas... Por que não terei a tua fé? — E com vehemencia — Daria minha vida para crer e rezar como tu...

— Espera... Deus ainda te concederá essa bençam...

— Mas, Dinah, meu desejo é um peccado, um vituperio, uma coisa feita, um acto consummado, um gesto sem recúo... entendes? Ah! não me comprehendes... Sou uma impia, uma irresoluta; ha pouco, quiz a tua fé, e, quando me affirmas, solemne, que a conseguirei, tremo, preferindo meu mal...

As duas dirigiram-se para o salão que, a essas horas, estava solitario; Ladice, exhausta, atirou-se em o sofá; Dinah ajoelhou-se a seu lado.