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ricia das frondes, das alturas, da nuvem, das luas cheias, das ramas... Sens cabellos desfaziam-se, espalhavam-se, emmaranhavam-se no rosto, nas mãos, de seu primo, á feição de perfumes liquidos, de tranças de incenso, de ondulações febris, de pensamentos convulsivos... seu corpo apoiava-se, abandonava-se, sustentava-se em a nuca, em o hombro de João como um sim ainda indeciso, hesitante, não liberto do não... Seu queixinho roseo e branco, sem o saber, pousava em a fronte do companheiro, uma volupia fixa, uma idês ignea... Ella o premia contra as rendas do vestido, contra os membros esbeltos, resvaladios... Acompanhavam-lhe os sorrisos, palavras gentis, amabilidades, lisonjas, promessas de virtude; eram actos infantis, cheios de pureza, de candura ; explosões innocentes, manifestações sem écho, eclosões estereis, sem raizes, de um sêr em o auge da curiosidade, enfunado de interesse...

João, impotente, suffocado, tonto, subjugado, acquiesceu; segurando-lhe os pulsos, as pupíllas incendiadas, disse-lhe, devagar:

— E´s horrivelmente perigosa... Foste má e impiedosa para commigo... Triumphaste... Ris, emquanto soffro... O que vais ouvir te exaltará; mas tambem te dará tristezas incoerciveis; é como uma gota de veneno, que não mata, mas que affecta a saude... — Ahi elle parou um pouco e poz-se a observal-a. — Deixaste-lhe a impressão de uma Hypatia ardente, cujos olhos possuem o reflexo mysterioso dos sóes de Alexandria; que, ao teu lado, experimentava a vertigem da arte e das ancias ignotas...