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Ah! João, quanta magnificencia. — E o delirio, a alegria bravia não refreada pelo espirito, pela razão, irrompeu em Ladice, cobrindo-a, qual vês phosphorescente e vaporoso.

O sr. D´Almada, sério, presenciava essa transformação, a erupção, a subida, a violação: d´esse mal unico, dessa verdade, em o organismo de sua prima; dos cílios, das ondas dos cabellos, da brancura da pelle, da virgindade, fugia-lhe, escapava-lhe, envolvendo-a, condensando-se-lhe em as linhas, a vaidade, o amor, a juventude bulhenta, o orgulho, a sonoridade de emoções nascentes...

Essas palavras ficaram, permaneceram em o intimo de Ladice, como a essencia das leis naturaes, como a consistencia subjectiva das concepções, do destino, das theorias metaphysicas... Ellas eram... ella mesma.

Por vezes, á força de repetil-as, tornavam-se ôcas, incomprehensiveis, nullas, brancas...

Essas palavras eram a eternidade, a pausa dentro das evoluções do sêr e das paixões; o principio inabalavel das alterações, do augmento, da diminuição de suas grandezas; a ideia de seus sysmbolos e mutações...

A senhorinha de Santo Hilario sentia-se feliz; essas palavras abastavam-lhe a consciencia; presentemente, ella nada mais desejava da vida. A certeza de haver impressionado o Vate bem amado, haver-lhe arrancado a admiração e, quiçá o amor, davam-lhe a coragem necessaria para arrostar as vicissitudes que se lhe impunham.