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tudes, de escrupulos, de ancias espirituaes; para que seu orgulho a fulgisse de virtudes; para que ella rastejasse, florescesse, vicejasse aos pés de Christo, submissa, azul, sem arcanos, como a flôr da trapoeraba; para que seus desejos tivessem a candura das faixas das commungantes, dos lirios trabalhados pelas mãos santas de “Soror” Maria da Trindade, do convento onde estivera; para que ella perseverasse no bem, rija como a madeira verde, como a fé dos prophetas, o aço, q bronze, a torre de marfim das ladainhas; para que seu coração, em as noites de dezembro, quando o cheiro das drocenas é mais penetrante, não estalasse de amor pelo mundo; mas, que, transfigurada, humilhada, soberba de remorsos, se atirasse ao coração de Jesus, exclamando, como nos Psalmos:—“Levantai-me para vós. Sou em vossa presença como uma terra sem agua !...”

Emquanto a alma de Ladice se zurzia de ascendencias lyricas, emquanto ella atravessava as horas, os dias, ligando-os como se fôra a necessidade radiosa, potente, magnifica do sol, o dr. Francisco Everardo de Assis resolvia duvidas e divergencias que surgiam, apesar de sua vontade. À confissão da senhorinha de Santo Hilario sobre sua paixão e a affirmação de nunca mais ter outra igual, torturavam-n´o —“O amor será como a generosidade, que só dá e nada recebe ?—inquiria elle a si proprio, temendo ir além, tentando parar a reflexão. — Será elle um sentimento que para ser, pairar, peça outros nervos, outras caricias, contemplações, pupillas extacticas, membros estarrecidos, mãos passionaes? A fé para persistir reclama o exem-

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