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plo dos martyres, o crucifixo, o estimulo da confissão, a palavra convincente do prégador, o Calvario... Mas tambem, quando o amor é imnmenso, nada pede; é prodigo, é vendado, é perdulario... Oh! ella conseguirá tudo de mim” — concluiu elle, convencido, embora impotente para apagar a multidão de fórmas, de figuras que lhe enxameavam na mente scenas vindouras e inevitaveis. — Ladice formosa e fria, olhares dolorosos e vehementes; ancias invisiveis nos seus labios por outros labios; busca infrene de sem senso por outro senso, encontro atordoante, paixão, fuga, morte... Suicidio, tragedias só tragedias... Mas seu optimismo triumphava, sua dôr esvahia-se. O dr. Assis appellava para a religião de Ladice, os seus principios, a sua educação, a probabilidade de que ainda poderia amar; lembrava-se com orgulho de sua posição social, de sua fortuna, de seus dotes physicos e moraes...

“Seremos muito felizes—repetia elle, satisfeito. — Que importa que lhe possua apenas a amizade, se lhe terei o corpo maravilhoso, a intelligencia, os gestos estonteantes... Oh! aprisional-a em os braços, beijal-a, beijal-a a todo o instante... Seu proprio mal me será bemdito” — ajuntou elle, a delirar.

Nessa noite, o dr. Assis se apresentou em casa de Ladice para pedil-a em casamento.

Ao enfrentar a senhorinha de Santo Hilario, risonha, esguia, flammante, como um desejo agudo, elle sentiu-se perplexo, constrangido, cheio de acanhamento... Pela primeira vez, seus olhos fugiam dos