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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/16

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ciedade, dos finos, dos bem educados. E agora? Anda de novo por aqui, sem vintem, mais depenado que a tal gralha. Por que? Porque quis ser o que não era.

— Isso não, vóvó! objetou Pedrinho. Ele ficou rico e quis levar vida de rico. Só que não teve sorte.

— Não, meu filho. O meu compadre apenas se encheu de dinheiro — não ficou rico. Só enriquece quem adquire conhecimentos. A verdadeira riqueza não está no acumulo de moedas — está no aperfeiçoamento do espirito e da alma. Qual o mais rico — aquele Socrates que encontramos na casa de Péricles ou um milionario comum?

— Ah, Socrates, vóvó! Perto dele o milionario comum não passa dum mendigo.

— Isso mesmo. A verdadeira riqueza não é a do bolso, é a da cabeça. E só quem é rico de cabeça (ou de coração) sabe usar a riqueza material formada por bens ou dinheiro. O compadre pretendeu ser rico. Enfeitou-se com as penas de pavão do dinheiro e acabou mais depenado que a gralha. Aprenda isso...

— E que quer dizer esse “lé com lé, cré, com cré”? perguntou Narizinho.

— Isso é o que resta duma antiga expressão portuguesa que foi perdendo silabas como a gralha perdeu penas: “Leigo com leigo, clérigo com clérigo”. Em vez de clérigo o povo dizia “crerigo”. Ficaram só as primeiras silabas das duas palavras.


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