Saltar para o conteúdo

Página:Fabulas (9ª edição).pdf/55

Wikisource, a biblioteca livre

— Muito bem. Mas cortaremos primeiro a sua. Vire-se para cá, faça o favor...

A pobre raposa, desapontada, teve de obedecer á intimação. Voltou-se de costas.

Foi uma gargalhada geral.

— Está explicado o empenho dela em nos fazer mais bonitas. Fora! Fora com a derrabada!...

E correram-na dali.


— Isso é bem certo, disse dona Benta. Se uma pessoa que tem um defeito conseguisse que o mundo inteiro tambem tivesse o mesmo defeito, que acontecia, Pedrinho?

— Acontecia que quem não tivesse o tal defeito é que era o defeituoso.

— Exatamente. Ha certos lugarejos aí pelo sertão em que todos os moradores ficam com uns enormes papos. Um dia um viajante entrou na casa duma familia de papudos e viu na parede o retrato de um moço sem papo. “Quem é ele?” perguntou. E a dona da casa respondeu: “Ah, esse é o meu filho Totonho, no tempo em que era defeituoso”. “E agora não é mais?” perguntou o viajante. “Felizmente sarou”, respondeu a papuda. “Está já com o pescoço bem cheio, como o meu” — e alisou com a mão aquela papeira lustrosa...


58—