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Página:Fabulas (9ª edição).pdf/77

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comer. Não troco a minha honesta vida de operaria pela vida dourada dos filantes.

— Quem desdenha quer comprar, murmurou ironicamente a mosca.

Dias depois a formiga encontrou a mosca a debater-se numa vidraça.

— Então, fidalga, que é isso? perguntou-lhe.

A prisioneira respondeu, muito aflita:

— Os donos da casa partiram de viagem e me deixaram trancada aqui. Estou morrendo de fome e já exausta de tanto me debater.

A formiga repetiu as empafias da mosca, imitando-lhe a voz: “Sou fidalga! Pouso em todas as mesas... Passeio pelo colo das donzelas...” e lá seguiu o seu caminho, apressadinha como sempre.


Quem quer colher, planta. E quem do alheio vive, um
dia se engasga.

— Seria muito bom se fosse assim, disse o visconde. Mas muitas e muitas vezes um planta e quem colhe é o outro...

Emilia fuzilou-o com os olhos. Aquilo era indireta das mais diretas. O visconde, amedrontado, encolheu-se no seu cantinho.

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