Página:Futuros Imaginarios.pdf/32

Wikisource, a biblioteca livre
RICHARD BARBROOK

Ao decidir começar a trabalhar neste livro, a última coisa que imaginei foi explorar a minha própria infância. Ao contrário, meu ponto de partida era um enigma teórico: a defesa acrítica de velhas visões sobre o futuro. Em 1995, enquanto escrevíamos A ideologia californiana[NT 1], Andy Cameron e eu tivemos o prazer em apontar que os empresários da revista ponto com Wired patrocinavam um modelo de rede neoliberal já nos primeiros anos da década de 1980.[5] Alguns anos depois, em The high-tech gift economy (A economia da dádiva da alta tecnologia), fiz uma conexão parecida, entre os sonhos do movimento de programas de computador de código aberto do final dos anos 1990 e a comunidade de ativistas de mídia dos anos 1960.[6] O que me fascinou tanto na época como agora foi que ambas, Direita e Esquerda, defendiam os futuros da Internet baseados no passado. Por décadas, a forma das coisas que viriam a ser permaneceu a mesma. A utopia da alta tecnologia está sempre logo ali, sem conseguirmos alcançá-la. Ao começar os trabalhos para este livro, estabeleci como tarefa explicar um dos fenômenos mais estranhos do início do século XXI: como o futuro é o que ele sempre foi.

Ao encontrar a fotografia da família Barbrook posando em frente à Uniesfera, percebi que descobrira a imagem que forneceria um foco para a minha investigação. Decidi que o ponto de partida deste livro seria explorar um paradoxo estranho: o modelo de futuro ofertado a mim, que vivo como um adulto em Londres no final dos anos 2000, foi o mesmo futuro prometido a mim ainda criança, na Feira Mundial de Nova Iorque em 1964. O que é ainda mais estranho é que — segundo as profecias feitas há mais de quatro décadas — eu já viveria neste futuro maravilhoso. No mundo desenvolvido, essa longevidade futura acabou por criar uma proximidade com as previsões dos visionários da computação. Na infância, diziam-nos que essas máquinas seriam capazes de um dia raciocinar — e até de sentir emoções — como seres humanos. Algumas características

34