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sustente que os louros são bem dotados que os morenos, ou vice-versa, que as raças de craneo oblongo são superiores ás de craneo largo, ou vice-versa; e a questão si na realidade tem algum fundamento, é certamente interessante para a sciencia. Mas, dado o estado actual das idealidades e sentimentos humanos, seria absurdo pretender que os louros e os dolycocephalos devem mandar nos morenos e nos brachycephalos, ou o contrario. Não le parece?

AMBROSIO — Bem está. Mas, voltemos á questão da familia. Querem abolil-a ou organizal-a sobre outras bases?

JORGE — Justo. Na familia e preciso considerar as relações economicas, as relações sexuaes, e as relações entre paes e filhos.

Quanto á familià como instituição economica, claro é que uma vez abolida a propriedade individual e portanto a herança, não tem já razão de existir e desapparece de facto. Neste sentido, afinal, já a familia está abolida para a grande maioria da população, maioria essa composta de proletarios.

AMBROSIO — E quanto ás relações sexuaes? querem o amor livre, a...

JORGE — Pois então?! ou julga que possa realmente existir um amor escravo? Existirá a cohabitação forçada, o amor fingido por força, por interesse ou por conveniencia social; haverá, talvez, homens e mulheres que respeitam o vinculo matrimonial por convicção religiosa ou moral; mas o amor verdadeiro não póde existir, não se concebe sinão perfeitamente livre.

AMBROSIO — Lá isso é verdade; mas, si cada um seguisse os caprichos que lhe inspira o deus amor, a moral deixaria de existir e o mundo tornar-se-ia um lupanar.

JORGE — Em materia de moral, póde, na verdade, gabar os resultados das suas instituições! O adulterio, as mentiras de toda a natureza, os odios profundos e solapados, os maridos que matam as mulheres, as mulheres que envenenam os maridos, os infanticidios, as crianças crescidas entre os escandalos e as rixas familiares... é esta a moral que crê ameaçada pela liberdade no amor?

Hoje sim, hoje é que o mundo é um lupanar, porque as mulheres são obrigadas, muitas vezes a prostituir-se por fome, e porque o casamento, amiúde contrahido por puro calculo, baixamente interesseiro, é sempre em toda a sua