Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/18

Wikisource, a biblioteca livre
16
GRACILIANO RAMOS

quim sapateiro, que tinha uma biblia miuda, dos protestantes.

Joaquim sapateiro morreu. Germana arruinou. Quando me soltaram, ella estava na vida, de porta aberta, com doença do mundo.

Nesse tempo eu não pensava mais nella, pensava em ganhar dinheiro. Tirei o titulo de eleitor, e seu Pereira, agiota e chefe politico, emprestou-me cem mil reis a juro de cinco por cento ao mez. Paguei os cem mil reis e obtive duzentos com o juro reduzido para tres e meio por cento. D’ahi não baixou mais, e estudei arithmetica para não ser roubado alem da conveniencia.

De bicho na capação (falando com pouco ensino), esperneei nas unhas do Pereira, que me levou musculo e nervo, aquelle malvado. Depois vinguei-me: hypothecou-me a propriedade e tomei-lhe tudo, deixei-o de tanga. Mas isso foi muito mais tarde.

A principio o capital se desviava de mim, e persegui-o sem descanço, viajando pelo sertão, negociando com redes, gado, imagens, rosarios, miudezas, ganhando aqui, perdendo ali, marchando no fiado, assignando letras, realizando operações embrulhadissimas. Soffri sede e fome, dormi na areia dos rios seccos, briguei com gente que fala aos berros e effectuei transacções commerciaes de armas engatilhadas. Está um exemplo. O dr. Sampaio comprou-me uma boiada, e na hora da onça beber agua deu-me com o cotovello, ficou palitando os dentes. Andei, virei, mexi, procurei empenhos — e