Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/11

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galgou com agilidade o muro, e sem dificuldade achou-se do outro lado, dentro do quintal.

Com o perigo cresciam agora as precauções do cavalheiro receoso de dar rebate à gente da casa. Esgueirando-se por entre o arvoredo até o terreiro donde avistava as janelas do oitão e a porta da serventia do quintal, ali ficou oculto pelas folhas e à espreita de alguma cousa de sua muita devoção, pois assim o trazia a afrontar perigos.

Ao cabo de algum tempo dessa espreita, percebeu o desconhecido que a aba de uma janela do sobrado se entreabria e o busto de uma pessoa reclinava-se ao balcão, recolhendo logo após uma rápida pesquisa dos arredores.

Apesar do sobressalto que teve, o cavalheiro não desmentiu sua consumada prudência. Conservou-se imóvel e oculto entre a folhagem, redobrando de vigilância. Somente depois que a oscilação da janela repetiu-se por três vezes, e que na impaciência como na sutileza do movimento ele pressentiu um gesto feminino, foi que o desconhecido resolveu-se a sair da sombra, destacando o vulto no descoberto do terreiro.

Ouviu-se então o soçobro de uma respiração cortada de repente, e que mais parecia o soluço intermitente da aura nas folhas da bananeira. Cerrou-se a janela, mas um objeto caíra aos pés do cavaleiro.