Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/131

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para dizer a origem daqueles versos.

O Nuno, que era um grande abelhudo, certo dia espiando pelo buraco da fechadura, tinha visto na alcova da mãe uma perna tão cabeluda que a princípio lhe pareceu de tamanduá. Mas logo com espanto descobriu que pertencia a certa pessoa que nesse dia estava de visita em casa da comadre e fora ao quarto para concertar a saia.

Passando-se a Olinda onde a D. Severa o atanazava de perguntinhas, escapuliu ao rapaz a descoberta da perna cabeluda, que a dama muito apreciou encarregando logo ao Lisardo de a pôr em verso. As torturas por que passou o nosso poeta nessa ocasião não se descrevem; tentou ele em princípio descorar o epigrama, mas a ninfa olindense obrigou-o ponto por ponto a rimar aquela quadra em que ofendia a formosura sem par da sua adorada Belisa.

A rima foi recitada no serão do Capitão-Mor Cavalcanti e muito aplaudida. No outro dia teve o Cosme vento da cousa e logo tratou de a meter no bico da gente do Recife, na esperança de ir assim cada vez mais turbando as águas onde contava pescar. Do como o fez, já sabemos.

— Só enforcados! dizia a Josefa.

— Qual enforcados, senhora! Ainda picados como cabidela para fazer pastéis, ou assados na