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Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/156

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em tamborete raso, para se dar ares de donzela, a ninfa olindense, a formosa Clélia, nome este por que era conhecida no Pindo a Senhora D. Severa de Sousa. Ocupava-se ela com a leitura de seu livro favorito, o Palmeirim de Inglaterra.

À direita, no longo estrado forrado de panos de arrás com figuras e ramagens, estão de tarefa as moças da casa e parentas, entre as quais distingue-se Leonor, pela formosura como pela melancolia; pois enquanto as outras vão chilreando risos e segredinhos ao ouvido, ela, de cabeça baixa, absorve-se no seu trabalho.

Um escravo de libré postado em cada porta para qualquer chamado e o mais que for preciso espera as ordens.

Leonor trabalha em uma touquinha de renda, que destina à neta recém-nascida de sua velha ama, a Brites. Está agora enfeitando-a de rosas de maravalhas, e essa ocupação lhe encaminha o espírito para umas saudades, que ela esconde no refólho d'alma para não nas adivinharem, e que são menos o recordo de uma ventura fruída do que a viuvez de uma doce esperança.

Sem que ela se apercebesse, tão distraída estava, começou-lhe o seio a desafogar em suspiros, e após eles veio um como murmúrio de intenso queixume que se foi desprendendo a pouco e pouco em suave e terníssima endeixa. Cantava