Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/214

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tomava a feição de um funil. Quanto às pernas e pés, não usavam meias nem sapatos, mas uma espécie de polaina preta de original invenção.

Fora o caso que não querendo os cabras admitir cousa que se parecesse com calçado, pois era o mesmo que peá-los, aventou o Nuno metê-los até o joelho em um tijuco preto que depois de seco fingia botas de longe, sem estropiar os seus soldados.

Tendo concluído os aprestos de sua companhia, lembrou-se o escudeiro da D. Severa de sair com ela para adestrá-la desde logo; e seriam quatro horas da tarde quando aquela mascarada desfilou pelas ruas de Olinda com grande alvoroço da meninada, que tomou a cousa por festa mourisca.

Seguiu o bando pelo istmo com direção às portas do Recife, onde o Nuno queria dar mostra da sua luzida esquadra.

Antes de chegar ao Forte do Brum, há no istmo uma pilastra conhecida por Cruz do Patrão que serve de baliza aos mareantes quando demandam o porto. Passando por ali, ouviu a tropa alguma cousa que excitou-lhe a atenção. Era uma espécie de salmo ou recitativo, pronunciado por uma voz débil e extenuada. Dir-se-ia um canto de igreja, talvez um responso, tão lúgubre eram os acentos daquele ritmo.

Os cabras se benzeram, esconjurando o mau