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Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/215

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agouro; e Nuno, um tanto agitado apesar da sua temerária impetuosidade de rapaz, adiantou-se para averiguar o caso.

Sentado no respaldo da pilastra, pela face do mar, via-se um homem com o olhar engolfado no vasto horizonte que se abria pela imensidade do oceano. Seus olhos pasmos e hirtos pareciam exalar os últimos lampejos d'alma que se estava desatando do seu espojo mortal, para embeber-se no céu. Moviam-se frouxamente os lábios desatando aqueles salmos tristes, em que de perto se reconhecia a cadência soluçante de uma trova.

Era só o que a vida ainda não desamparara nesse corpo já quase morto, que a não ser a pilastra onde se derreava, estaria rojando no chão. Mas esse mesmo crepúsculo da vida, que ainda pairava nos olhos e nos lábios do infeliz, bruxuleava já, apagando-se intermitente como o clarão de lâmpada a extinguir-se. Ao ver-lhe o semblante que jaspeava a lividez da morte, Nuno deu um grito, e apeando-se rijo correu ao moribundo.

— Lisardo!

O poeta não pôde volver os olhos para o amigo; mas um raio perpassou-lhe no rosto, como a luz de um sorriso.

— Acudam! gritou o Nuno para sua gente. Depressa! É