Página:Guerra dos Mascates (Volume II).djvu/28

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na baixa da maré, e por isso chamado Varadouro.

Com esse dique, em forma de ponte ou passadiço, impedia-se a água salgada de subir além, enquanto que a represa do Beberibe formou um vistoso lago que despejava as sobras por dezoito canos, fartando a cidade de água doce, como da grande cópia de peixe que ali se criava.

Desta obra se aproveitaram também os do Recife, que mandavam em canoas encher as vasilhas nas bicas do Varadouro, especialmente para as aguadas dos navios; pois suas cacimbas, como as de Santo Antônio, eram salobras e cheias de limo.

Não obstante foi a ponte, na frase do cronista, uma figa para os mascates, os quais não podendo sofrer que Olinda se lograsse de tal vantagem sobre o Recife, buscaram traça para a desforra, que em má hora lhes trouxe a fortuna adversa.

Aconteceu, seis meses depois, que abrindo-se uns barris chegados de São Tomé dias antes, estivesse a carne que traziam corrompida a ponto de matar logo ali de pronto com o ramo da peste o tanoeiro e mais quatro que o ajudavam, desenvolvendo-se em seguida uma devastadora epidemia.

Entrou o povo do Recife a clamar que todo o mal proviera da tapagem do Beberibe, pois estagnadas as águas onde cresciam tantas ervas, era de prever que se envenenassem aquelas com a podridão