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EM JORNADA
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curia de Aurélio obteve o governo de um condado da fronteira, abrangendo o território entre os rios Cabe, Sil e Valcarce e as serras de Cuperio (hoje Cebrero), e de Lózara, em cuja circumscripção se achavam as suas propriedades. Costumava passar a força do verão no castro de Foigoso; mas a maior parte do anno em Quiroga, onde, além da sua «villa» de S. Martinho, havia, a meia distancia entre os pequenos rios Quiroga e Soldou, no topo de um alto que domina o Sil — admiravelmente escolhido como ponto de vigia e defeza — uma das principaes torres de atalaya mandadas constrnir por Affonso I para defender as suas fronteiras meridionaes. Ali havia sempre guarnição, existindo um castello que ao depois tomou maiores dimensões, do qual se vêem ainda hoje as ruinas, que são do dominio particular do actual conde de S. Martin de Abajo. No momento dos incidentes que vamos narrar, Froya e sua filha estavam quasi em vespera de voltarem para Quiroga.

Era o quinto anno do seu governo. No verão antecedente, tinham ido, pae e filha, passar uma temporada no norte, permanecendo Ermesinda em Lugo com seu tio materno, o conde Tructesindo, que ali governava, em quanto Froya fazia uma visita á côrte em Pravia.

Em Lugo tinha Guesto Ansures a sua morada. Ali se dedicava ao estudo, a que fôra animado pelo irmão de Aurelio, o diácono Bermudo, que também residia n’aquella cidade, e tinha tomado o mancebo em affeição.

Foi, pois, por tal ensejo que Guesto e Ermesinda se encontraram pela primeira vez, originando-se d’ahi mutua sympathia. Mas conscios da fatalidade que os separava, souberam encobrir os seus sentimentos ao conde Froya quando este voltou da corte. Antes porém do regresso para Quiroga comprometteram-se a esperar oceasião favoravel para realisarem as suas esperanças; e a presença do principe-diacono, que os protegia, daúdo certa solemnidade ao acto, fizera com que se considerassem moralmente desposados.

No meia do de julho, isto é, tres mezes antes da data d’esta historia, Guesto viera passar dous a tres dias em companhia de seu amigo Vimaredo, prior do convento duplex de S. Miguel, sito em Subrego, na margem direita do