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de modo a o velar e esconder mesmo à maioria dos seus admiradores. O seu brasileirismo, que não era apenas manifestação do seu indianismo, mas lhe estava, para falar com o nosso povo, na massa do sangue, e lhe vinha do nascimento e criação em um meio genuinamente brasileiro e de influições da raça indígena na formação da sua psique, o fortificaram estudos da história e etnografia nacional, nos quais revelou outras faces do seu talento e capacidade literária: qualificações para tais estudos, aptidão crítica, facilidade e pertinência de exposição. As suas memórias sobre a existência de amazonas no Brasil, sobre o descobrimento casual ou não deste e sobre as civilizações indígenas do país e da Oceânia, como antes desde as suas Reflexões acerca dos Anais de Berredo, do mesmo passo que lhe comprovam não comum erudição destes assuntos, documentam no poeta não vulgar versatilidade de talento.

A estes diversos escritos, e até alguns de caráter administrativo e oficial, colaboração em revistas e jornais, ensaios apenas encetados, folhetins, cumpre juntar como prova da atividade mental do poeta e gosto e vocação dos estudos brasileiros, o Dicionário da língua tupi (Leipzig, 1858) e o Vocabulário da língua geral... usada no Alto Amazonas (Rev. do Inst., XVII). Todas estas obras em prosa de Gonçalves Dias, ainda as que não são de natureza literária, distinguem-se pela linguagem e estilo mais cuidados do que era aqui comum, salvo nos seus comprovincianos. São por isso das que ainda podemos ler com facilidade e prazer. Não só por qualidades de pensamento, de imaginação e de sentimento, senão pelas de expressão, é Gonçalves Dias um dos nossos clássicos, ou por outra um daqueles pouco numerosos escritores brasileiros que