Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/265

Wikisource, a biblioteca livre

o sendo pelas íntimas qualidades de que procede um estilo, escrevem certa, fluente e elegantemente. Ainda como escritor português, um ou outro deslize não o desabona de vernáculo. E o é com mais naturalidade, menos intencionalmente e de estudo do que os seus camaradas do grupo Odorico Mendes, Sotero dos Reis e João Lisboa.

Ensaiou também Gonçalves Dias o romance, e quase foi ele, antes de Texeira e Sousa, o seu inventor aqui. Ainda em Coimbra, por 1841 ou 42, escreveu um a que deu o título realista de Memórias de Agapito Goiaba, do qual apareceram fragmentos no Maranhão em 1846. Era um livro de memórias e recordações pessoais travestidas e idealizadas, à moda da Nova Heloísa, e só por isso seria certamente curioso. Apesar deste exemplo ilustre, se não estava ainda na despudorada literatura pessoal cujo criador foi exatamente Rousseau. À delicadeza de Gonçalves Dias repugnou publicá-lo e o destruiu mais tarde. Pelo que dessa tentativa nos resta, presumimos que além do sainete das reminiscências e confidências disfarçadas num romance vivido, teria este sobre os dos criadores do gênero aqui, aquilo que totalmente lhes faltou, virtudes de composição e de expressão. É, porém, como poeta o maior e o mais completo que o Brasil criou, e o que lhe é mais afim, que Gonçalves Dias vive e viverá na nossa literatura, da qual é uma das figuras mais eminentes, se não a mais eminente. Vive e viverá também pela sua influência, que foi considerável e legítima e não cessou ainda de todo, e que porventura reviverá quando, passado este momento de exotismo desvairado e incoerente, volvermos à mesma