Página:Historia da literatura brasileira (Verissimo, 1916).pdf/320

Wikisource, a biblioteca livre

de São João, na província do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1837 e morreu em 1860. Seu pai, português como o de Gonçalves Dias, como esse o destinava ao comércio. Menos tratável, porém, que aquele, quis obrigar o filho a ficar numa profissão a que este era de todo avesso.

Dos poetas da sua geração é Casimiro de Abreu, talvez mais que outro qualquer, o poeta do amor e da saudade. Os dois sentimentos são a alma da sua poesia. Este pobre rapaz fraco e enfermiço nascera poeta, com a sensação viva, dolorosa do que o grande poeta latino chamara as lágrimas das cousas, cujo mortal encanto lhe penetrou cedo a alma melancólica. O drama íntimo da sua vida, o desconhecimento do seu talento, a contrariedade oposta à sua vocação e, acaso, as imperfeições do lar paterno, tudo teria sido exagerado até ao trágico pela sua sensibilidade doentia. É grande a mágoa que de tudo lhe vem; grande, real e sincera. Da sua vida amorosa nada de certo sabemos. Os seus biógrafos, mesmo aqueles que mais intimamente, parece, o conheceram e trataram, como Reinaldo Montoro e Teixeira de Melo, divagam e amplificam, segundo tem sido aqui o mau vezo dos biógrafos, em vez de lhe investigarem a vida e de a contarem sem impertinentes recatos. Nos seus versos, porém, há a impressão pungente de um amor infeliz que lhe deixou a alma malferida e para sempre dolorosa. O afastamento, a ausência da terra natal, o exílio, como, imitando a Gonçalves Dias, lhe chamou, completaria a exacerbação da sua sensibilidade orgânica e lhe daria ao estro o tom nostálgico que, sem igualar a simplicidade genial do seu inspirador, não lhe ficará somenos em emoção.

É sob a influência da nostalgia e do amor, ambos de fato