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nele uma doença, que se põe a cantar o Brasil. Mas o Brasil, que canta em seus sentidos versos, a pátria por quem chora e que celebra, é principalmente a terra em que lhe ficaram as cousas amadas e mormente a desconhecida a quem dedicou o seu livro e que, segundo a meia confidência de um daqueles biógrafos, teria encontrado morta quando voltou à terra natal. A saudade desta com os encantos que a saudade empresta aos seus motivos é que o faz patriota, se mesmo com esta restrição se lhe pode aplicar o epíteto, que não vai aqui como elogio. A sua nostalgia é sobretudo o amor, não só à mulher querida, mas a quanto este amoroso amava, o torrão natal, a casa paterna, a vida campestre, que para as almas sensíveis como a sua se enche de prestígio ignorados do vulgo.

Lá de longe cantou a sua terra, os sítios da sua infância, as suas recordações de toda a ordem, avivadas pela saudade, com sentida e comovedora emoção. As penas de amor e de saudade fizeram-no o poeta que foi. Toda a sua curta vida, ainda depois de restituído à sua terra, uma saudade incerta, uma indefinida nostalgia ficar-lhe-ia na alma como um ferrete daquelas penas. E o nosso povo, que do português herdou o senso desses dois sentimentos, em a nossa raça irmanados na mesma emoção, achou porventura em Casimiro de Abreu o mais fiel intérprete das suas próprias comoções elementares, primárias, do amor do torrão e da mulher querida. Pelo que é Casimiro de Abreu o poeta brasileiro que o nosso povo mais entende e a quem mais quer. Ama-o, recita-o, canta-o, fazendo-o um poeta popular, em certos meios quase anônimo. Comprova este asserto o fato de ser Casimiro de Abreu, de todos os nossos poetas, excetuando Gonzaga, certamente o que tem sido mais vezes reimpresso, total ou parcialmente. As suas Primaveras têm, pelo menos, oito edições.

Voltando doente e abatido à terra natal, a vista daquelas cousas tão choradas no exílio põe-lhe na alma dolente