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acentos raros atingidos pela nossa poesia. E dele se haviam de inspirar Luís Guimarães Júnior, Lúcio de Mendonça e outros que cantaram iguais estados d'alma:

Eis meu lar, minha casa, meus amores, a terra onde nasci, meu teto amigo, a gruta, a sombra, a solidão, o rio onde o amor me nasceu, cresceu comigo.

Os mesmos campos que eu deixei criança, árvores novas, tanta flor no prado!... Oh! Como és linda, minha terra d'alma, -Noiva enfeitada para o seu noivado.

Foi aqui, foi ali, além... mais longe, que eu sentei-me a chorar no fim do dia, -Lá vejo o atalho que vai dar na várzea... Lá o barranco por onde eu subia!...

Acho agora mais seca a cachoeira onde banhei meu infantil cansaço, -Como está velho o laranjal tamanho onde eu caçava o sanhaçu a laço!...

Como eu me lembro dos meus dias puros! Nada me esquece!... Esquecer quem há de? -Cada pedra que eu palpo ou tronco ou folha fala-me ainda dessa doce idade.

E a casa?... As salas, estes móveis, tudo, o crucifixo pendurado ao muro... O quarto do oratório, a sala grande onde eu temia penetrar no escuro!...

É da melhor, da mais alta, da mais profunda poesia. Como poeta do amor, não é demais dizer que Casimiro de Abreu deu à nossa língua, tão rica sob este aspecto, algum dos seus mais comovidos senão mais formosos cantos. A uns destes os prejudicou, no conceito da geração imediata ao poeta, a mesma popularidade que os vulgarizou nos recitativos de salão, como foram de moda. Não obsta que poemas como Amor e medo e Minha alma é triste