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sejam, sem encarecimento, apesar da sua toada que nos é hoje menos agradável, dos mais belos da nossa poesia.

Com incorreções de forma poética, a que somos depois do parnasianismo demasiadamente sensíveis, têm eles em alto grau, sentimento, idealização, emoção da melhor espécie poética, e até, em mais de um passo, peregrinas excelências de expressão. Há em Amor e medo notadamente um ardor de volúpia ao mesmo tempo contida e exuberante, que lhe realça sobremodo a beleza, e formosuras de sensação e de expressão que não teriam o direito de desdenhar os mais reputados sequazes de Baudelaire. É forte a sua tradução das tentações amorosas da carne, como o diriam estes poetas, e, mais, de todo nova na nossa poesia, senão também na da língua portuguesa:

Ai! Se eu te visse no calor da sesta, a mão tremente no calor das tuas, amarrotado o teu vestido branco, solto o cabelo nas espáduas nuas...

Ai! Se eu te visse, Madalena pura, sobre o veludo reclinada a meio, olhos cerrados na volúpia doce, os braços frouxos, palpitante o seio!...

Ai! Se eu te visse em languidez sublime, na face as rosas virginais do pejo, trêmula a fala, a protestar baixinho, vermelha a boca soluçando um beijo!...

Desprezados, como necessariamente sucederá dentro em pouco, os preconceitos que a vulgarização de tais versos contra eles criou, eles nos aparecerão em toda a sua novidade e beleza de sensação e expressão. Ver-se-a o seu realismo de idéias e estilo, nem sequer suspeitado então como fórmula ou processo de escola, do mesmo passo que se lhes sentirá o ardor e a intensidade que desafia quanto a paixão à cola daquele poeta francês e dos seus discípulos pôs nos versos dos nossos ulteriores poetas. Em que lhes