Página:Historia e tradições da provincia de Minas-Geraes (1911).djvu/231

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do rio onde banhava os membros infantis. Aquela, que matara para se desfazer do amante importuno que odia­va, era também capaz de morrer de amor por aquele a quem adorasse, ou de apunhalar o amante que a atraiçoasse. Car­lito, simples criança, não podia adivinhar quanta paixão, energia e resolução havia no fundo da alma daquela menina na aparência tão indolente, frívola e descuidosa.

Apesar dos esforços de seu pai, Jupira nunca pudera perder de todo os hábitos de selvática liberdade em que fora criada. Saía sozinha de casa e vagava por campos e matas, caçando ou pescando, como se fosse um rapaz, e muitas vezes nos dias calmosos ia sozinha banhar-se nas águas do seu que­rido Rio Verde, no mesmo sítio em que na infância se exercitara a fender-lhe as ondas, em um remanso límpido e profundo sobre o qual se debruçavam árvores copadas, cobrindo-o de sombra e fresquidão deliciosa. Esses passeios, que seriam muito desinquietadores e dariam muito que falar em outra qualquer rapariga, em Jupira ninguém os estranhava.

Ela gozava da reputação de ter em aversão os homens, principalmente aqueles que a amavam. Essa fama, baseada no seu gênio arisco e um tanto crespo, na história do cacique que havia matado, e no