Página:Historia e tradições da provincia de Minas-Geraes (1911).djvu/232

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uso de uma pequena faca guarne­cida de prata que sempre trazia no seio, serviam-lhe de sal­vaguarda, e ninguém ousava atravessar-se em seu caminho quando saía em suas excursões, e se acaso algum rapaz a encontrava pelos rincões solitários ou pelas veredas escusas da mata, tirava-lhe respeitosamente o chapéu, e seguia seu caminho.

O próprio José Luís não mostrava inquietar-se muito com aqueles passeios de sua filha. – Quem sabe tão bem guardar-se, – costumava ele dizer, – e fazer-se respeitar por tanto tempo no meio das matas e entre bugres bravios, que risco pode correr aqui no meio de gente cristã e civilizada?

Só havia uma pessoa, que não lhe tinha medo; era Carlito. Mas esse mesmo ainda não tinha ousado ir perturbá-la em seus giros solitários.

Todavia, Carlito sentia um vivíssimo desejo, que não podia mais refrear, e era de ir espiar sua linda prima, quando ela ia banhar-se nas águas do Rio Verde. Nada lhe era mais fácil do que gozar, sem que Jupira o pressentisse, daquele espe­táculo, com o qual esperava que gozaria todas as delícias do céu, e que nada mais lhe restaria a desejar sobre a terra.

Quando a viu pois dirigir-se para os lados do rio, o qual corria como a um quarto de légua de distância, deu uma grande volta, passou para o outro lado