Página:Historias da meia noite.djvu/21

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a parasita azul
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— Deve estar uma moça?

— Tem seus vinte annos bem contados.

— Lembra-me que era bonitinha aos doze.

— Oh! mudou muito… para melhor! Ninguem a ve que não fique logo com a cabeça voltada. Tem regeitado ja uns poucos de casamentos. O último noivo recusado fui eu. A causa por que me recusou foi ella mesma que me veio dizer.

— E que causa era?

— « “Olhe, Sr. Soares, disse-me ella. O senhor merece bem que uma moça o acceite por marido; eu era capaz d’isso, mas não o faço porque nunca seriamos felizes.” »

— Que mais?

— Mais nada. Respondeu-me apenas isto que lhe acabo de contar.

— Nunca mais se fallaram?

— Pelo contrario, fallâmo-nos muitas vezes. Não mudou commigo; trata-me como dantes. A não serem aquellas palavras que ella me disse, e que ainda me doem ca dentro, eu podia ter esperanças. Vejo, porêm, que seriam inuteis; ella não gosta de mim.

— Quer que lhe diga uma cousa com franqueza?

— Diga.

— Parece-me um grande egoista.

— Póde ser; mas sou assim. Tenho ciumes de tudo, até do ar que ella respira. Eu, se a visse gostar de outro, e não pudesse impedir o casamento, mudava de terra. O que me vale é a convicção que tenho de que ella não ha