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Página:Horto (1910).djvu/224

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Mas, não, escuta bem: eu não te amava.
Minha alma era, como agora, escrava...
     Meu sonho é tão diverso!
Tenho alguém a quem amo mais que a vida,
Deus abençoa esta paixão querida:
     Eu sou noiva do Verso.

E foi assim. Num dia muito frio.
Achei meu seio de ilusões vazio
     E o coração chorando...
Era o meu ideal que se ia embora,
E eu soluçava, enquanto alguém lá fora
     Baixinho ia cantando:

     “Eu sou o orvalho sagrado
     Que dá vida e alento às flores;
     Eu sou o bálsamo amado
     Que sara todas as dores.

     Eu sou o pequeno cofre
     Que guarda os risos da Aurora;
     Perto de mim ninguém sofre,
     Perto de mim ninguém chora.

     Todos os dias bem cedo
     Eu saio a procurar lírios,
     Para enfeitar em segredo
     A negra cruz dos martírios.