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HORTO

E a sua bocca falou tão doce,
Como si a corda de um’harpa fosse:

« Filha adorada que o teu gemido
Ergueste n’aza de uma oração,
Na treva escura sempre envolvido
Porque soluça teu coração?

Levanta os olhos para o meu rosto
Que á vista d’elle foge o Desgosto.

Não tenhas medo do soffrimento,
Elle é a escada do Paraiso...
Contempla os astros do Firmamento,
Doces reflexos de meu sorriso.

Não pensa em dores nem canta maguas.
A garça nivea fitando as aguas.

Sigo-te os passos por toda parte,
Vivo comtigo como um irmão,
Acaso posso desamparar-te
Quando me trazes no coração?

Nas oliveiras do mesmo Horto,
Emquanto orares, terás confôrto.

Olha as estrellas... no Céo escuro
Parecem sonhos amortalhados...