Página:Inspirações do Claustro.djvu/10

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com vestidos talares negros, que levavam-me â recordação dos costumes dos tempos antigos, passeando sempre sobre um chão povoado de sepulcros, conversando com o silencio do dia e a solidão da noite?

Cantei o monge e a morte.

Cantei o monge, porque ele sofre, — sofre muito.

Cantei o monge, por que o mundo o despreza. Cantei o monge, porque ele é hoje uma coisa inútil e ociosa, em conseqüência de suas instituições anacrônicas. Cantei o monge, por que ele não tem culpa de ser mau, nem pôde por si só ser bom. Cantei o monge, por que ele poderia ser uma personagem quase necessária, dando­-se-lhe as leis comuns da humanidade.

Cantei o monge, por que ele é infeliz. Cantei o monge, por que ele é escravo, não da cruz, mas do arbítrio estúpido de outro homem. Cantei o monge, por que não há ninguém, que se ocupe de cantá-lo.

E por isso que cantei o monge, cantei também a morte. É ela o epílogo mais belo de sua vida: é seu único triunfo. Na verdade, ao homem sincero amante de sua pátria, doe-lhe dentro da alma ver tanta gente estacionada, sem nada fazer, podendo produzir tanto bem. Não! a caridade que o Cristo ensinou, não é egoísta: — imagem real do pelicano, que arranca o coração para dá-lo aos filhos!

Muitos, a quem tomam o cuidado de chamar — ímpios, — censuram o monge no monge. Eu deploro-o somente, por que ele não é criminoso. A instituição, a instituição é que, depois de lhe tirar o trabalho, hoje em dia já não preciso, de rotear montanhas, não lhe forneceu outro qualquer em ordem às necessidades da época, mas antes convidou-o a uma espécie de ócio, no qual ele não pode ser mais, que | mau e desgraçado.

Eu falo com o coração entre as mãos acerca de todas essas causas, — de todos esses padecimentos.

Quorum pars magna fui.

Como esse Enéias, desenhado pela imaginação de Virgilio, saindo do boqueirão das chamas, que ainda lavram, posso, — graças a Deus! — falar de Tróia, sem correr seus riscos.