Página:Inspirações do Claustro.djvu/16

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tempo de amadurar o seu engenho, moderar e regularizar a sua inspiração, colher no estudo mais profundeza de pen­samentos, que grande poeta que fora, e quanta glória der­ramaria sobre o seu país natal!

O cântico à profissão de frei João das Mercês denota o sentimento, mágoa e dor, que já haviam começado a apo­derar-se do seu espírito, e desbotar-lhe as cores mais suaves; o isolamento do claustro não poderá vencer as paixões do jovem, e quebrar-lhes os brios naturais; afigurava-se-lhe o claustro um inferno medonho, aonde lhe haviam enterrado a existência para lha amargurar e emurchecer; no meio das suas angustias exalava suspiros desesperados como os Claustros, Apóstata, Converso, e Misantropo; às vezes fe­lizmente o salvava o sopro divino, arrebatando-lhe o espírito e vôos para as idéias melancólicas, religiosas e morais, que brilham e resplandecem primorosamente na Meditação, Incenso do altar, Irmãs de caridade, e Pobre soberbo.

Quereis ouvir como se perdia aquele espírito poético, quando balançando entre a desesperação do isolamento e as crenças religiosas, entre as saudades da vida humana e a prisão da célula, fazia soar a lira com arrebatamentos do­lorosos? Lede o Cântico à profissão de frei João das Mercês.

Versos expressivos tem também o cântico da Meditação; há um doer constante, e penar contemplativo, que se ob­serva nesta existência juvenil e ardente, que fere e rasga o peito, e chama as lágrimas aos olhos.

Oh! morra o coração — gérmen fecundo
       De mil tormentos;
Desfaleçam-lhe as fibras — espedacem-se
       Os filamentos.

Isenta de paixões — de amor, ou ódio,
       Surja a razão;
Não obedeça escrava aos sentimentos
       Do coração.