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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/143

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Veiu-me agora a idéa que o velho Issachar amarrado a elle deve ser gracioso, porque tendo vivido muito, constrangido a falar, ha-de contar cousas incriveis, quanto mais dizer onde está uma chave, cujo paradouro elle não póde ignorar. Não achas tu tambem que é folgança e desporto digno de qualquer rainha o vêr como estouram os ossos carunchosos de um perro de noventa annos?”

Um suor frio manou da fronte de D. Judas, cujas pernas vacillantes se recusavam a suste-lo. Quando D. Leonor acabou de fazer as suas atrozes perguntas, o judeu tinha cahido de joelhos aos pés della.

“Por mercê, senhora,—­exclamou elle n’um trance horroroso de angustia—­mandae-me açoutar como o mais vil servo mouro: mandae-me rasgar as carnes com os mais atrozes tormentos; mas perdoae a meu velho pae, que não tem culpa da pobreza de seu filho. Se eu tivera ou podéra alcançar mais que as duas mil dobras e as quinhentas barbudas que offereci a meu senhor elrei...”

“Judeu!—­atalhou D. Leonor—­tu deves saber tres cousas: a primeira é que os tractos do potro são intoleraveis; a segunda é que eu costumo cumprir as minhas promessas; a terceira é que se neste momento de aperto eu te