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Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/144

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podesse applicar o remedio, não o guardaria para a ossada bolorenta de um lebréu desdentado.”

“Vendido cem vezes,—­proseguiu o thesoureiro-mór lavado em lagrymas, e procurando abraça-la pelos joelhos—­eu não poderia apresentar neste momento mais que a somma já dicta de duas mil e quinhentas dobras, e quinhentas barbudas, ainda que vossa mercê me mandasse assar vivo.”

“És um louco, D. Judas!—­interrompeu Leonor, affastando de si o judeu com um gesto de brandura.—­Por uma miseria de pouco mais de quinhentas pé-terra consentirás que Issachar, que teu pae, honrado velho! pragueje nas ancias do potro contra o Deus de Abraham, de Jacob e de Moysés?”

O thesoureiro-mór conservou-se por alguns momentos calado, e na postura em que estava. Depois, passando o braço de revés pelos olhos, enxugou as lagrymas e ergueu-se. A resolução que tomára era a de um desesperado que vae suicidar-se.

“Aqui estarão, senhora,—­murmurou elle—­os dous mil maravedis quando os quizerdes. Procurarei obte-los; mas ficarei perdido. Agora podeis dar ordem á vossa partida.”

“Adeus, meu mui honrado D. Judas:—­