disse D. Leonor sorrindo.—Não perderás nada em ter cedido aos meus rogos.”
Dicto isto, saíu pela mesma porta por onde saíra elrei.
O judeu estendeu os braços com os punhos cerrados para o reposteiro que ainda ondeava, levou-os depois á cabeça, d’onde trouxe uma boa porção de melenas grisalhas. Feito isto, tirou da aljubeta uma chave, abriu o cofre pequeno e pulverulento, sacou para fóra um saquitel pesado, sellado e numerado, e os dous mil maravedis rolaram sobre o grande livro, que ainda estava aberto sobre uma das arcas. Contou-os quatro vezes, empilhou-os aos centos, e como se as forças se lhe tivessem exhaurido no espantoso combate que se passava na sua alma, atirou-se de bruços sobre a pequena arca, e abraçado com ella desatou a chorar.
“Meu pobre thesouro, juncto com tanto trabalho!—exclamou por fim entre soluços.—Guardei-te neste cofre com medo de te vêr roubado, e os salteadores vim encontra-los aqui! Mas que se livrem de eu tornar a receber os direitos reaes das mãos dos mordomos. Meus ricos dous mil maravedis de bom ouro, não voltareis sósinhos quando vos tornardes a ajunctar com os vossos abandonados companheiros!”
Esta idéa pareceu consolar de algum modo D.