Página:Lendas e Narrativas - Tomo I.djvu/50

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das suas tenebrosas cogitações. Poz-se em pé. As lagrymas haviam corrido por aquellas faces, mas estavam enxutas. A procella de paixões encontradas tumultuava lá dentro; mas o gesto do principe dos crentes recobrára apparente serenidade. Descendo do throno pegou na mão mirrada de Al-muulin, e apertando-a entre as suas, disse:

“Homem que guias teus passos pelo caminho do céu; homem acceito ao propheta, perdoa as injurias de um insensato! Cria ser superior á fraqueza humana. Enganava-me! Foi um momento que passou. Possas tu esquece-lo! Agora estou tranquillo ... bem tranquillo ... Abdallah, o traidor que era meu filho, não concebeu tão atroz designio. Alguém lh’o inspirou: alguem verteu naquelle animo soberbo as vans e criminosas esperanças de subir ao throno por cima do meu cadaver e do de Al-hakem. Não desejo sabe-lo para o absolver; porque elle já não póde evitar o destino fatal que o aguarda. Morrerá; que antes de ser pae fui kalifa, e Deus confiou-me no Andalus a espada da suprema justiça. Morrerá; mas hão-de acompanha-lo todos os que o precipitaram no abysmo.”

“Ainda ha pouco te disse—­replicou Al-gafir—­o que pôde inventar o ódio que é