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Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/152

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Rosa pobre, pobrissima. Por mal de peccados fôra ella antigamente lavadeira do casal do moinho, ou antes dos moinhos, porque para a exacção historica deve-se advertir que o moleiro possuia dous. Uma vez, que levára grande porção de roupa, tinha perdido tres saccas velhas e rotas. Bartholomeu quando tal soube quiz morrer.—­“Juro por esta—­dizia elle esbravejando e beijando os dous dedos indices cruzados sobre a bôca:—­juro que Perpetua Rosa me ha-de pagar as minhas tres saccas novas em folha, que me perdeu, a desalmada!”—­Mas nem novas nem velhas; porque a verdade era que ella não tinha com que as pagasse. Forçado foi, portanto, ao moleiro fartar a vingança com ordenar-lhe que não lhe tornasse a rapar os pés á porta. Desde este fatal dia nunca mais Bartholomeu da Ventosa pôde encarar com a lavadeira: o seu odio vivia involto e aquecido na imagem das tres saccas gravada naquelle coração de avarento. Assim para elle seria cousa monstruosa e abominavel só o imaginar a possibilidade de seu filho Manuel casar com Bernardina, a quem a pobreza fôra de sobra para impedimento dirimente, quanto mais o ser filha de semelhante mãe. Tal era a difficuldade insuperavel que se oppunha á união dos dous amantes.