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Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/166

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verdade; mas anda atrapalhadote. O casal dos Caniços arrasou-o este anno: deve-me já vinte moedas, e...”

O prior cortou-lhe o enthusiasmo pelos seus parentes com uma gargalhada estrondosa. O moleiro ficou de bôca aberta no meio daquelle destampatorio.

“Oh, oh, oh! querias que o meu dote servisse para pagar as tuas vinte moedas?! Não é assim?—­E, voltando immediatamente ao seu serio, proseguiu:—­Bartholomeu! Bartholomeu! Por causa da iniquidade da sua avareza me irei, e o feri: diz o propheta. A cubiça que te cega ha-de baldear-te no inferno, como tu baldêas alli para a ribanceira as mós que já não prestam. Queres mentir á tua consciencia, enganar o teu pastor, quando elle te vem pedir que o aconselhes? Isto não é bonito, Bartholomeu! Não é bonito!”

“Mas, padre prior...”

“Qual mas, nem meio mas! Deixemo-nos de historias. Bem diz o dictado:—­Fui a casa da vizinha envergonhei-me; vim á minha remediei-me.—­O melhor é seguir a primeira lembrança.”

“Então, se vossenhoria já tinha posto o dedo...”